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Vol. 11 - Ok, Let's Eat a Pizza...

Posted by Chester
Theo acabou se apoiando sobre a bancada antes que seu joelho fosse de encontro ao caco da taça e ao mesmo tempo esmagasse minha mão sobre ele. Porém, isso não evitou que eu acabasse cortando minha mão.
- Chess, me deixa ajudar você. Não olhe.
Ele já sabia que vê sangue me provocava náuseas e tontura. Theo me ajudou a levantar e levou minha mão até a pia, onde despejou água corrente e tirou outro caco que havia ficado preso. Depois, enrolou minha mão em um pano limpo com todo o cuidado.
- Fique aqui, vou pegar meu kit de primeiros socorros. Não olhe para a mão, ok?
- T-t-tudo bem... - balbuciei.

Minutos depois, já estava eu com um curativo na mão. Digamos que curativos não era o ponto forte dele. Minha mão parecia ter sido mumificada pela quantidade de ataduras que ele pôs.

Theo limpou a cozinha e prosseguiu com o jantar. Ficamos um bom tempo em silêncio, até que ele veio na minha direção e se abaixou bem na minha frente.
- Está tudo bem com você?
- Desculpa Theo, mas aconteceu algo bizarro agora pouco...

Contei a ele sobre os pensamentos que tive ao ver os cacos de vidro pelo chão e que aquelas lembranças ainda me feriam muito. Embora ele parecesse acostumado com a perna mecânica, para mim era como se aquilo fosse algo que estava nele somente por minha causa. E aos poucos, meus olhos começaram a se encher de lágrimas.
- Chester, presta atenção...
Ele começou a levantar a calça e deixar à mostra a barra metálica que hoje ocupava o lugar de uma perna linda no passado. Depois de ter dobrado a calça até a altura do joelho, Theo pegou minha mão e levou até a perna.
- Vamos, toque.
- N-n-não, não quero fazer isso...
Quando vi, já estava tocando. Num primeiro toque, senti a frieza de um metal. Algo que não pertencia àquele lugar. Ao ver que não estava me sentindo confortável com a situação, Theo pegou meu rosto pelo queixo e me fez encará-lo.
- Chester, hoje isso pertence a mim. É o elemento que me ajuda a me locomover. Não nasci com ele, é verdade, mas hoje... Hoje isso me dá forças para continuar vivendo. E escute isso bem... Eu jamais culparia você pelo o que aconteceu. Ninguém tem culpa disso. Foi minha escolha tentar salvar você, e ao fazer isso saberia que tinha riscos. Sinto culpa por várias outras coisas, mas jamais... Jamais por esta perna. - e esboçou um sorriso.
E se não fosse o cheiro de queimado que invadiu a cozinha, provavelmente teríamos nos beijado.
- As minhas batatas!
Quando olhamos para a panela, as batatas haviam se transformado em uma espécie de pasta preta, e o cheiro de queimado era horrível. Theo olhou para mim numa cara de desânimo.
- Bom, e que tal uma pizza? - ele sugeriu, e caímos na risada.

Nos jogamos no sofá para assistir TV, enquanto aguardávamos a pizza. Estávamos sentados um do lado do outro, praticamente grudados. Nossos braços estavam sobre uma almofada e várias vezes se roçavam. Embora soubesse que Theo queria me beijar, não conseguia criar coragem para tomar iniciativa. Senti diversas vezes os pêlos dos braços dele roçarem os meus. E ele parecia estar gostando da brincadeira, pois também não tomou nenhuma atitude. Algumas vezes o peguei me olhando, mas quando eu me virava ele voltava os olhos para a TV. Quando finalmente nossos dedos mínimos se encostaram, Theo passou o dedo dele sobre o meu e puxou. Logo nossas mãos se entrelaçaram. E nossos olhos, finalmente se encontraram.
E sim, a maldita campainha tocou naquela hora.
(CONTINUA)

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Vol. 10 - And I Say No... No... No!

Posted by Chester
As semanas que passaram foram inacreditáveis. Fazia muito tempo que não me divertia tanto, ainda mais acompanhado. Stephen era o tipo de cara que estava sempre disposto a qualquer programa. Desde ir caminhar no parque no sábado de tarde até perder algumas horas de sono assistindo DVDs até tarde da noite.

Naquele fim-de-semana minha mãe não estaria em casa, pois iria num passeio com as amigas dela. Convidei Stephen para jantar e assistirmos juntos alguns filmes. Pensei até que poderíamos dormir juntos, mas dormir literalmente.
Ele chegou pontualmente no horário marcado e trouxe as coisas que eu havia pedido do supermercado que eu não tinha em casa. E logo fomos para a cozinha. Eu estava faminto.
- Ainda bem que você chegou, não agüentava mais de fome...
- É, eu também estou com fome... - disse enquanto me abraçava por trás e me dava mordidas no pescoço.
- Hahahahaha... Para com isso!
- Ah, vai dizer que você não gosta?
- Digamos que não é hora para isso.
- Tudo bem. Olha só, trouxe algo para incrementar nosso jantar. - e tirou de um saco de papel uma garrafa de vinho.

Minhas experiências com bebidas alcoólicas nunca foram muito satisfatórias. Geralmente ficava enjoado ou com muito sono. Mas, como ele parecia tão empolgado com aquilo que resolvi ceder e beber uns goles. Uma taça talvez me deixasse só alegrinho, pensei.

Enquanto eu jantava, bebericava minha taça. Stephen não deixava nunca que ela esvaziasse e eu continuava bebendo como se o vinho não tivesse efeito nenhum.
Acabamos de jantar e nos jogamos no sofá. Colocamos o primeiro filme para ver, mas o que deu para perceber é que Stephen não estava a fim de ver filme nenhum. Logo começou a me agarrar. No começo estava gostoso. Porém ele estava indo muito depressa ao ponto...
- Stephen... Vai com calma!
- Eu não to fazendo nada de mais...
- Stephen, por favor... Não... Não quero fazer isso.
- Ah, capaz que você não quer...
- Stephen... NÃO!
Nessa hora ele me pegou pelos braços e ficamos frente a frente. Ficou me encarando com uma cara como se a situação fosse a mais normal do mundo. Uma tontura invadiu meu corpo e logo minha visão ficou deturpada e perdi os sentidos.

Acordei no outro dia com Rose me ligando. Tinha marcado de fazer um trabalho com ela. Já deveria estar lá fazia uns vinte minutos.
- Chester, onde você está? Estou aqui esperando. Liguei para você várias vezes mas ninguém atendia!
- Oi Rose. Olha só, eu perdi o horário. Mil desculpas. Vamos fazer assim. Deixa que eu faço o trabalho e depois mando ele por e-mail, ok? Daí você pode ler e corrigir qualquer coisa. Desculpa mesmo.
- Tudo bem Chester. Se precisar de alguma coisa me avise. Cuide-se.
- Você também.
Ao desligar o telefone, sentei em uma cadeira. Estava extremamente tonto e mal conseguia ficar em pé. Sentado, uma sensação quente me invadiu. Algo líquido e quente escorria na cadeira.
Eu estava sangrando.
(CONTINUA)

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Vol. 9 - Heroes and Saints

Posted by Chester
Theo sempre soube como me deixar sem graça. E isso nem é uma tarefa difícil, já que qualquer elogio direcionado a mim é capaz de tornar o meus rosto tão vermelho quanto um tomate. E era assim como eu estava na frente dele agora. Nervoso com a situação e sem saber o que dizer, meti a boca direto na minha taça de cappuccino e dei um grito de dor. Ao perceber a situação ridícula em que me encontrava e ao ver que todos no café me observavam por ter queimado a língua com o líquido quente, comecei a rir. Algumas pessoas esboçaram um sorriso e voltaram ao que faziam. Theo, que começou a rir junto comigo, falou:
- Você continua o mesmo atrapalhado de sempre...
- Infelizmente foi algo que ainda não superei... Não me ensinaram no colégio como deixar de ser um nerd idiota. - e rimos juntos.
- Bem, eu queria poder ficar mais tempo contigo hoje, mas a babá do Henry terá que ir embora mais cedo, então daqui a pouco eu vou ter que ir.
- Entendo.
- A não ser que queira conhecer onde eu moro... Posso preparar algo para jantarmos, assistir um DVD...
- Se não sentisse um cheiro de segundas intenções no ar, era capaz de ir mesmo...
- Ah... Desculpa... Não tinha essa intenção. - ele disse, sem graça.
- Aham, sei...
A cara de decepção em Theo derreteu meu coração. Era claro que eu queria ir, mas estava tudo tão rápido. Maldito coração mole...
- Bom, eu só espero então que saiba cozinhar bem e que o filme seja bom.
Um sorriso iluminado surgiu no rosto dele.
- Será tudo maravilhoso, eu prometo.

Saímos do café pouco tempo depois. Passamos num supermercado e em uma locadora. Theo queria um filme mais romântico, mas eu queria mesmo algo bem assustador. Afinal, filmes de terror ajudam a forçar um clima nas cenas mais violentas. Pelo menos eu imaginava que funcionaria.

Theo estava morando praticamente sozinho num apartamento enorme. A decoração vitoriana deixava um ar clássico e requintado no ambiente. Confesso que me senti meio deslocado naquela sala enorme, digna de uma revista de decoração. Enquanto eu observava tudo meio atônito ele largava as compras sobre um aparador.
- Vem, quero mostrar a casa. - me pegando pela mão.
Ao pegar na minha mão, uma sensação indescritível passou pelo meu corpo. Era como se tudo em mim se enchesse de coragem e de ternura. Meu coração passou a bater mais forte e que aquela mão fosse a coisa mais confiável do mundo. Ela poderia me levar a qualquer lugar do mundo e eu jamais hesitaria em segui-la.
Passamos por diversos cômodos até que chegamos ao quarto de Henry. Decorado com um papel de parede que lembrava uma noite muito iluminada, e no centro um lindo berço branco de ferro enlouqueceria os olhos de qualquer mulher grávida. Ao chegar mais perto e ver aquela pequena criaturinha dormindo, tão frágil e tão doce que ficaria a noite inteira admirando ela dormir. De uma cadeira de balanço, a babá se levanta, meio que dormindo e sai, se despedindo rapidamente. Theo pega a babá eletrônica sobre uma cômoda e liga colocando no berço de Henry.
- Vamos, ele vai demorar para acordar. - e me pegou pela mão.
- Boa noite anjinho - balbuciei.

Voltando até a cozinha, Theo começou a preparar o jantar, enquanto eu ficava sentado tomando uma taça de vinho.
- Tem certeza de que não quer ajuda? - perguntei.
- Hoje você é meu convidado. - e me deu uma piscada.
Distraído, coloquei a taça sobre a bancada, mas ela caiu e se espatifou no chão.
- Ai, que desastre...
Me abaixei para juntar os cacos e Theo, se abaixou para me ajudar. Ao ver que ele se abaixava e iria se ajoelhar sobre um caco grande, logo uma onda de lembranças invadiu minha cabeça.
- Theo, cuidado...
E em câmera lenta revi a cena em que Theo caia sobre os cacos de vidro e logo depois a cena em que descobrimos juntos que a perna dele havia sido amputada. A angustia de rever tudo aquilo fez com que eu enfiasse a mão sobre o caco antes que o joelho dele se encontrasse com o chão.
(CONTINUA)

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