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Vol. 22 - Dancing with myself

Posted by Chester
Fui até Arthur com cara de poucos amigos e logo o rapaz se apresentou.
- Carter, prazer. – e deu um sorriso torto com a boca, enquanto me oferecia a mão.
Apertou minha mão com uma força que pude sentir meus dedos amassados pelo anéis que ele usava. Aproveitei que estava no bar e pedi uma cerveja. A garrafa gelada amorteceu a dor que meus pobres dedos estavam.
Vendo que os dois estavam no maior agarramento, resolvi que era hora de sair dalí.
- Arthur, vou circular um pouco por aí. Mais tarde te procuro para irmos embora.
- Tudo bem Chess. Boa caçada. – disse rindo.
- Obrigado – sibiliei com os dentes trincados.

Não sei se estava ficando velho demais, mas as festas não eram mais tão divertidas para mim quanto eram 2 anos atrás talvez. Acho que fiz mal em perder minha inocência tão cedo e ver que a maioria das pessoas não valia nada e que jamais encontraria alguém que me fizesse feliz para sempre. Acho que estava aos poucos virando um daqueles solteirões amargurados.

Quando percebi que a noite havia acabado para mim, fui chamar Arthur para finalmente irmos embora. Voltei para o bar, e ele não se encontrava por ali. Dei uma circulada por perto para encontrá-lo e nada. Sentei no bar, pedi uma coke e fiquei esperando. “Onde é que esse cara se meteu?” pensava. Já começava a imaginar coisas horríveis. Quando me dei conta, a festa já estava quase vazia e agora se eu não o encontrasse, certamente ele teria ido embora sem me avisar. Dei a última ronda e percebi que era verdade. Ele se foi. Provavelmente na companhia daquele rapaz estranho. Liguei para o celular. Direto na caixa postal.

Entrei na fila para pegar meu casaco. Quando estava chegando próximo ao balcão, senti meus tênis derraparem por causa de algum líquido que haviam derramado no chão. Por impulso, joguei minhas mãos sobre os ombros do rapaz que estava na minha frente e escorreguei, levando ele ao chão junto comigo.
- Por favor, me desculpa... Eu... Eu... Oh meu Deus! Me desculpa! Não consegui me equilibrar.
A cara que ele fez foi de poucos amigos, mas se levantou e ajudou a me levantar. Ficamos frente a frente e fiquei admirado com a beleza daqueles olhos verdes. E sorriu para mim.
- Me desculpe novamente.
- Está tudo bem. Sou Ewan, prazer. – e me ofereceu a mão após limpá-la nas calças.
- Chester. P-Prazer.
Ele sorriu.
- Bom, Chester... Que tal me oferecer um café depois desse desastre todo como pedido de desculpas?
- Oh, claro. – o convite me pegou de surpresa - Por que não? Vamos sim!
Pegamos nossos casacos e partimos para a noite fria londrina.

(continua)

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Vol. 21 - Je T'Aime in Paris

Posted by Chester
Paris, a cidade luz. Não era a toa que havia recebido esse nome. A cidade emanava um brilho que jamais Londres teria. Era como se aquela luz toda fosse propícia para o amor. O táxi que nos levou até o hotel só mostrou um pouquinho do encanto que nos esperava. Enquanto Theo falava alguma coisa em francês com o taxista, eu carregava aquela linda criaturinha no colo. Henry havia acordado e agora sorria pra mim. Me perguntava o porquê ficamos tão abobados com crianças, mas tive certeza depois que fazia palhaçadas para ele rir.
- Parece que tem outra pessoa que está gostando muito de ti... – disse Theo todo bobo, sorrindo pra mim.
- Não posso evitar. É uma criança linda. – e passei a mão sobre o braço dele.

Chegamos a um hotel muito bonito. Demorei para reconhecer que era o Ritz. Tudo no hotel era lindo. Theo rapidamente preencheu as fichas e logo subimos para o quarto. E não era um simples quarto. Era uma suíte enorme. Havia uma ante-sala com uma mesa e uns sofás e de cada lado havia uma grande porta que dava acesso aos dois quartos. Num deles ficava o berço de Henry e no outro, uma imensa cama de casal. Theo pediu que eu ligasse para o serviço de quarto e pedisse algo para jantarmos enquanto ele providenciaria uma mamadeira para Henry que já estava bastante sonolento novamente. Em menos de 20 minutos nosso jantar chegou e Henry já se encontrava dormindo.
Já jantados, fomos até a janela do nosso quarto. Tínhamos uma vista maravilhosa da cidade dalí. Nada mais propício que um beijo naquele momento. Como sempre, parecia estar flutuando.

Na manhã seguinte acordamos cedinho. Apesar de estar muito frio, o sol batia em nossa janela convidando para um passeio ao ar livre. Andamos por algumas ruas, visitamos a Torre Eiffel, entrei em muitas lojas e em diversas saí brigando com Theo, que acabava pagando todos aqueles meus pequenos luxos.

Na maior parte do tempo, era eu que empurrava o carrinho de Henry. Estava achando divertida a situação. E até despertou um lado paterno que eu jamais achei que poderia sentir. Numa bobeada de Theo que saiu para comprar água para nós, entrei com Henry numa enorme loja de brinquedos e comprei várias bobagenzinhas para ele. Quando estava na fila do caixa, uma mulher muito bem vestida fala algo em francês.
- Desculpa, eu não falo francês. – respondi.
- Eu disse que o garoto é muito bonito. – disse ela sorrindo.
- Ah, obrigado.
O celular começa a tocar e era Theo desesperado. Informei a ele que estava na loja de brinquedos com Henry. Quando ele entrou na loja nós estávamos saindo do caixa e no que ele nos olhou, me puxou pelo braço e saímos correndo dalí.

(continua)

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Vol. 20 - Dance a little bit closer...

Posted by Chester
À partir daquele momento, Arthur se tornou meu melhor amigo. Não demorou muito para que as conversas diárias tanto via e-mail quanto telefone se tornassem freqüentes. Às vezes, freqüentes até demais. Durante a semana ele ficava ocupado em função das aulas e de um trabalho que ele havia conseguido numa mercearia próxima a casa dele. Mas durante o final de semana pude apresentá-lo totalmente ao mundo Gay de Londres. Ao conhecer o Arthur e apresentar a ele esses lugares que eu já freqüentava, me fez ter uma nova visão daquilo que eu achava que era. E desejei ter os olhos do Arthur naquele momento. Ver as coisas com inocência. Achar que tudo era lindo e que as pessoas eram todas boas e queriam bem mais que só uma noite de prazer. No fim de semana anterior havia levado ele na G.A.Y. e naquela noite fomos na Heaven. O lugar é imenso e só de passar pela porta pude ver os olhos de Arthur brilharem. Ainda acho que os homens de lá são os mais bonitos de Londres, mas sei muito bem que menos de 10% que estão ali dentro prestavam vê alguma forma e que tinha na cabeça algo mais que uma companhia para a noite.

Como em todos os locais gays, sempre há uma distinção de grupos e geralmente todos andam reunidos... Os caras mais sarados de um lado, os bears de outro e as “fadas” em um canto... Mas havia um grupo novo em Londres com rapazes muito jovens, que haviam recém começado a freqüentar os clubes noturnos, mas já aproveitavam a vida a um bom tempo nas ruas. Não eram necessariamente garotos de programa, mas a fama deles não era das melhores. Muitas histórias eram contadas, mas na maioria não passavam de boatos. Bem provável que fossem espalhados por eles mesmos a fim de assustar um pouco as pessoas com uma fama de “garotos perdidos”.

Enquanto Arthur parecia encantado com a música e as pessoas, eu tentava me divertir. Nunca mais tinha saído por causa do Stephen e só estava saindo mesmo porque queria agradar e acompanhar o Arthur nessa jornada de descoberta.
Havia um dos rapazes do bando dos “garotos perdidos” que constantemente olhava em nossa direção. Ele parecia estar meio perdido naquele grupo. Talvez fosse a ovelha branca do rebanho de ovelhas pretas. Durante muito tempo ele olhava e baixava a cabeça, como se tivesse envergonhado. Como sempre fui muito tapado na arte da paquera, achei que não era comigo e continuei dançando. Nem havia me interessado mesmo no rapaz e estava ali somente para acompanhar Arthur, não para ficar com alguém.
- Chess... – gritou Arthur e fez com que eu aproximasse o ouvido pra ouvir o que ele iria falar. – Vou pegar algo para beber. Você quer algo?
- Não, estou bem. Vou me sentar um pouco. Te encontro ali naquelas mesas... – e apontei em direção ao outro lado da pista.
Com um sinal afirmativo de cabeça, Arthur me virou as costas e foi em direção ao bar. E eu então atravessei a pista até as mesas.

Muitas Britneys, Kylies e Madonnas depois, resolvi procurar Arthur, que não havia aparecido até então. Atravesso a pista somente observando alguns olhares que me devoravam. Certamente aquelas pessoas estavam vendo bem além das roupas que eu estava vestindo, se é que vocês me entendem. Cheguei até o bar e nada do Arthur. Comecei a ficar um tanto preocupado, até que bem no canto, ouço um grito meio abafado pela música alta:
- Chess, estou aqui! – gritou ele, todo sorridente, escondido atrás de um rapaz de regata preta.
O rapaz se vira em minha direção e meus olhos não acreditaram em quem eu estava vendo.

(continua)

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Vol. 19 - Just give me a smile and I'm yours...

Posted by Chester
- Chester, está tudo bem com você?
- Eu é que pergunto! O que houve Theo? Onde você está? Por que sumiu? – já estava quase chorando.
- Tive um probleminha com o Henry. Ele estava com um pouco de febre e achei bom levá-lo ao médico antes de viajarmos. Mas a consulta demorou um pouco e só agora fomos liberados.
- E ele está bem?
- Sim, está tudo bem agora. Chess, por favor pegue um táxi e me encontre na estação. Estou saindo daqui agora.
- Mas não chegaremos a tempo de pegar o trem... – disse desanimadamente.
- Eu já liguei para lá. Iremos no próximo horário. Chegaremos mais tarde que o previsto à Paris, mas conseguiremos aproveitar um pouco da noite ainda hoje.
- Tudo bem, pegarei um táxi agora. Eu... Eu estava muito nervoso Theo.
- Me desculpa, não queria te alarmar. Achei que ia dar tempo para tudo.
- Eu achei que... Bem, deixa pra lá...
- Fale Chess. – Theo mudou a entonação para algo sério.
- Eu achei que estava me abandonando... De novo! – desabafei.
Criou um silêncio na linha.
- Eu JAMAIS teria motivos para te abandonar Chester. E sabes muito bem que da primeira vez eu não tive culpa.
- Mas poderia ter me ligado... Ou... - quase estava chorando.
- Eu não pretendo discutir isso novamente. Se você acha que pode esquecer o que aconteceu e dividir a tua vida comigo para sempre, me encontre na estação. Eu gostaria muito de te encontrar lá. Até logo. – e desligou.

Com a mão na boca, apavorado com a reação de Theo, me sentei na poltrona. Eu sabia que ele estava certo, mas naquele momento ele pareceu tão pouco compreensivo com a minha dor. Será que era eu que fantasiava demais? Esperava que ele fosse vir todo carinhoso a cada vez que eu chorasse? Que imagem idealizada dele que eu criei... Estava revoltado por dentro. “Como ele pode menosprezar o que eu sinto?”, pensava. Estava a ponto de subir com as malas e esquecer tudo o que ele havia feito por mim. Peguei elas e fui em direção ao elevador. E somente ao pressionar o botão percebi o quanto estava sendo egoísta. Pensando só no meu sofrimento. Afinal, ele também sofreu... Ele que me procurou de novo. E ele me amava de verdade. E era aquela a coisa mais importante. O elevador chegou e a porta se abriu na minha frente. Meu reflexo no metal dourado que cobria o as paredes me provocou um sorriso bobo. Foi o suficiente para fazer com que eu saísse correndo pelo lobby em direção a porta para pegar um táxi.

Pouco tempo depois estava na estação. Olhando para todos os lados, tentava encontrar Theo. Até que no meio da multidão, que parecia caminhar em câmera lenta, estava ele. Carregando Henry no colo, lá estava a mais perfeita visão do “Príncipe Encantado”. E só se concretizou quando ele olhou na minha direção e sorriu. Não haveria nenhum coração que resistiria àquela cena.

(continua)

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Vol. 18 - Pink Friends

Posted by Chester
No outro dia pela manhã, Arthur me ligou.
- Onde tem um supermercado aqui perto? Não tem ninguém em casa.
Dei uma resposta grosseira e informei. Trinta minutos mais tarde, novamante ele me liga e pergunta como chegar até a UCL. Após informar como ele deveria fazer, convidei que ele me encontrasse após a aula dele para esclarecermos algumas coisas, já que isso era parte do aprendizado dele.

Depois do almoço, todo atrapalhado, ele chega até a minha mesa. Me cumprimenta e já vem com uma lista de perguntas. Eu simplesmente comecei a dizer que ele não deveria me ligar sempre que necessitasse de alguma ajuda porque o meu trabalho era somente acompanhá-lo até a casa nova. Meio decepcionado com a resposta, ele diz:
- Ainda não me acostumei com a cidade e ter um rosto familiar me ajudaria bastante. Apesar de bastante empolgado por estar aqui, ainda sou bastante tímido e inseguro para tomar conta de mim sozinho. – e seus olhos começaram a se encher de lágrimas.
Vendo aquela cena, não pude deixar de ficar comovido e deixei de ser tão ranzinza. Arthur parecia ser um cara legal então nada mais justo que dar uma colher de chá para ele. Fui até a sala de Mrs. Gershner avisando que levaria Arthur para conhecer alguns locais importantes pois estava sofrendo com a adaptação inicial. Após aprovado, eu e ele seguimos para o metrô. Não lembro de ter andado em tantas linhas diferentes no mesmo dia, mas confesso que nunca tinha reparado o quanto Londres era enorme subterraneamente.

Já passava das 19h e resolvemos parar em um café para descansar um pouco antes de levá-lo de volta para casa. Pedi a Arthur que me contasse um pouco da vida dele e num primeiro momento ele pouco se abriu. Notei que fazendo perguntas ele me respondia bem mais que de vontade própria.
- E você tem namorada no Brasil? – perguntei.
Ele que estava com a xícara na boca se engasgou com o café.
- Não, eu não tenho namorada.
Eu sabia que ele não gostava de mulheres graças ao episódio do encanador, mas queria ter certeza.
- E namorado?
Novamente ele começou a tossir.
- Tudo bem, aqui em Londres é bem normal. – tentei remediar.
Ele ficou apreensivo. Começou a me olhar meio torto, como se fosse fugir dali. Ficamos alguns instantes em silêncio, enquanto ele mexia no seu café. De repente, levanta os olhos em minha direção e pergunta:
- Você é gay?
A surpresa da pergunta me deixou desconcertado. Após aquelas reações dele, deveria eu assumir que era? E se ele resolvesse sair espalhando por aí? E se falasse para Mrs, Gershner, que era uma senhora tão devotadamente católica? Eu poderia ser demitido, apesar da amizade com minha mãe.
- Sim, eu sou. – soltei sem pensar mais nas conseqüências.
Os olhos dele se arregalaram. Por um momento achei que tinha feito besteira. Imaginei que ele ia se levantar a qualquer momento e sair dali correndo. Mas logo um sorriso começou a aparecer no seu rosto e Arthur me diz:
- Finalmente terei um amigo gay para compartilhar meus problemas... Eu... Eu também sou e nunca tive ninguém para conversar sobre isso.
E aquela confissão me fez sentir que a partir daquele momento eu e ele seríamos amigos inseparáveis. E retribuí com um sorriso.

(continua)

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Vol. 17 - A quarter pass nine to happiness...

Posted by Chester
Cedo pela manhã, entrei em casa pé por pé para não fazer barulho. Mas assim que passei pela cozinha vejo Dona Charlotte de pé, ainda de pijama e robe, com uma xícara de café na mão. Dei meu melhor sorriso sem graça e quis ir correndo em direção ao quarto para evitar qualquer pergunta. Ao passar pela porta, só ouvi ela falando:
- Quem era o rapaz?
Ao ouvir aquilo me engasguei com minha própria saliva. Ela veio ao meu encontro na sala e perguntou o porquê de eu ter inventado que tinha ido dormir na casa do Arthur, já que ele havia ligado diversas vezes para casa. Acabei recebendo o sermão de preocupação, até que ela percebeu que eu não estava prestando nem um pouco atenção no que ela dizia.
- Pois bem... Estou vendo que este rapaz te fez muito bem. Qual é o nome dele? Onde se conheceram?
- Mãe, não é hora para conversas... Daqui a pouco tenho que ir trabalhar...
- Ah meu filho, só o nome então...
- Mãe... Por favor... – já me irritava a situação.

Estava me despindo pela casa louco para tomar um banho e sair dalí. Do nada ela se escora no batente da porta e fica me observando encher a banheira.
- Não vai me contar nada mesmo?
- Mãe, você está muito chata hoje! – esbravejei. – Sabe com quem eu sai? Você nunca iria acreditar... É... É loucura demais!
Ela só me observava com uma cara de preocupada ao mesmo tempo muito curiosa.
- Mãe, eu reencontrei o Theo! - falei quase rindo.
As feições do rosto dela passaram de surpresa para decepção em segundos.
- Bom... Eu só espero que ele não desapareça novamente. Não quero mais ter que gastar com psiquiatras e remédios desnecessários nesta casa. – Ela virou as costas e saiu.
Depois de vestido, dei um beijo no rosto dela e saí correndo. "Era melhor tomar café na rua hoje", pensei.

Perto do almoço, Theo me liga.
- Já estou morrendo de saudades.
- Seu bobo, não faz nem 4 horas que saí daí.
- Bom, liguei porque tive uma ótima ideia. Logo após o trabalho, passe em casa e faça as malas. Pegaremos o trem às 19h e chegaremos à Paris mais ou menos 21h15. Já estou com as passagens compradas e o hotel reservado. Vamos ter um fim de semana que já deveríamos ter feito a muito tempo atrás.
- Mas... Theo... Eu...
- Não fale nada. – disse ele rindo. – Gostou da minha proposta?
- Theo... É... É... Inacreditável! Eu adorei!
- Que bom. Passarei na tua casa exatamente às 18h. Esteja pronto.
- Tudo bem. Estarei te esperando.
- Te amo, Chess.
- Eu também te amo, Theo.

Avisei o restante dos funcionários da agência e saí mais cedo. Chegando em casa, chamei ela para que pegasse uma mala no armário e viesse comigo conversar no quarto.
- Onde você pensa que vai com essa pressa toda?
- Ai mãe, menos por favor. Theo acabou de me convidar para passarmos o fim de semana em Paris! Você sabe que a anos quero fazer essa viagem. Ele disse que comprou as passagens e daqui a pouco vai passar aqui para me buscar.
- Meu filho... Não acha que é muito cedo... Muito... Precipitado da tua parte ir viajar com esse rapaz que tu reencontrastes depois de... Sei lá... 5, 6 anos?
- Eu nunca me senti tão bem quanto agora mãe. Estou nas nuvens. Preciso aproveitar essa oportunidade de ser feliz. – e enchi uma mala inteira enquanto conversava.
- Bom, já és bem grandinho. – disse ela já se retirando do quarto. Chegando na porta, se virou e olhou em minha direção.
- Não quero mais te ver sofrer por ele Chester. Só quero tua felicidade.
Veio na minha direção e me abraçou muito forte. Sussurrou um boa sorte no meu ouvido e me ajudou a fechar as malas.

Correndo, desci para o lobby para esperar Theo. Eu já estava cinco minutos atrasado, mas Theo ainda não havia aparecido. Liguei para o celular dele e a chamada caia na caixa postal. Resolvi esperar algum tempo. Várias ligações depois e nada. Minha impaciência estava visível. Andava de um lado para outro, com o celular na mão sem saber se ligava mais uma vez ou esperava que ele retornasse. Mas Theo havia desaparecido totalmente. Faltavam 15 minutos para o trem partir. E eu já estava em desespero. Meu coração estava palpitando e fui obrigado a me atirar na poltrona. Estava suando frio. “Ele me enganou”, pensei eu. “Eu não acredito que estou passando por isso de novo”. E um choro de desespero começa a correr sobre o meu rosto.

Até que meu celular começa a tocar. Era ele.

(continua)

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Vol. 16 - London Calling

Posted by Chester
Segunda pela manhã, peguei o metrô e fui direto para a agência de intercâmbio. Mrs. Gershner era uma senhora baixinha de uma família de Gales. Tinha um sotaque engraçado mas logo me deixou bem à vontade. Meu trabalho nada mais seria do que receber os intercambistas e ser o principal contato deles caso necessário. Após apresentar minha mesa, assinar papéis e tudo mais, já fui encaminhado para buscar meu primeiro estudante de intercâmbio. Seu nome era Arthur Ferraù e pelo que constava na ficha, estava vindo do Brasil. ”Bom, vamos lá”, pensei. Me encaminhei para o aeroporto às pressas pois o voo dele chegaria em poucas horas. Cheguei munido de uma placa com o nome do rapaz e fiquei próximo à saída do desembarque. Eu havia visto uma foto pouco nítida da cópia do passaporte dele, mas com certeza não era o suficiente para reconhecê-lo. Com as pessoas saindo pela porta, logo tratei de colocar a placa em local bem visível e logo um jovem veio em minha direção. Era um rapaz bonito com uma cor de bronzeado e cara de surfista. Quando chegou bem próximo, eu esbocei um sorriso e já ia cumprimentá-lo, quando ele se vira e dá um abraço na garota que está ao meu lado. Envergonhado, me afastei dali e continuei procurando o tal de Arthur. Muitas pessoas depois e percebi que ele não havia desembarcado. Fui até a fila da imigração procurar, mas já não havia mais ninguém ali. Pensei em ligar para Mrs, Gershner, mas não queria que ela pensasse que eu era incompetente para o serviço.
Então, entrei no banheiro numa tentativa de me acalmar. Estava irritadíssimo e só faltou urrar! Entrei empurrando a porta com força e em frente a pia, um rapaz revirava as malas à procura de algo. Falando palavras impronunciáveis para mim, parecia estar xingando algo pelo modo que se expressava. Até que ao olhar para o seu rosto, percebi que poderia ser a pessoa que eu procurava. Tirei o papel com o nome dele do bolso e mostrei. De repente, a cara de fúria do rapaz se torna um sorriso e se apresenta:
- Olá! Desculpa! Sim , sou o Arthur Ferraù. E você como se chama?
- Sou Chester Von der Brough. Prazer em conhecê-lo. – secamente respondi, já que estava irritado demais com a atitude do rapaz.
- Prazer em conhecê-lo também. Desculpa a bagunça. Estou procurando um CD que eu achei que tinha colocado em minha mochila, mas pelo jeito não coloquei na mala também. É de uma cantora chamada Sarah Brightman, conhece?
- Ah, sei quem é. Bom, é melhor irmos indo. – falei, um pouco rude. - Tenho que levar você até a agência para preencher os papeis e depois levá-lo até a sua nova residência.
- Ok. Vamos então. – e começou a encher as malas com as roupas novamente.

Saímos do aeroporto e embarcamos no metrô. Não havia simpatizado com aquele rapaz. Certamente só o veria de novo quando ele aparecesse na agência ou algo assim. Embora ele puxasse bastante assunto, não estava com cabeça naquele dia. Depois de muita conversa e dele assinar os papéis, fui levá-lo até a casa onde ele ficaria até arranjar outro local para morar. Ele me pareceu um pouco deslumbrado com a cidade e queria saber tudo que acontecia. Chegando na casa, um encanador estava consertando uns canos no corredor. Usando apenas um macacão e o tórax praticamente todo à vista, Arthur ficou paralisado e quando passamos por ele chegou a virar a cabeça para olhar para trás. E sussurrou “Eu acho que vou adorar Londres”.

(continua)

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