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Vol. 18 - Pink Friends

Posted by Chester
No outro dia pela manhã, Arthur me ligou.
- Onde tem um supermercado aqui perto? Não tem ninguém em casa.
Dei uma resposta grosseira e informei. Trinta minutos mais tarde, novamante ele me liga e pergunta como chegar até a UCL. Após informar como ele deveria fazer, convidei que ele me encontrasse após a aula dele para esclarecermos algumas coisas, já que isso era parte do aprendizado dele.

Depois do almoço, todo atrapalhado, ele chega até a minha mesa. Me cumprimenta e já vem com uma lista de perguntas. Eu simplesmente comecei a dizer que ele não deveria me ligar sempre que necessitasse de alguma ajuda porque o meu trabalho era somente acompanhá-lo até a casa nova. Meio decepcionado com a resposta, ele diz:
- Ainda não me acostumei com a cidade e ter um rosto familiar me ajudaria bastante. Apesar de bastante empolgado por estar aqui, ainda sou bastante tímido e inseguro para tomar conta de mim sozinho. – e seus olhos começaram a se encher de lágrimas.
Vendo aquela cena, não pude deixar de ficar comovido e deixei de ser tão ranzinza. Arthur parecia ser um cara legal então nada mais justo que dar uma colher de chá para ele. Fui até a sala de Mrs. Gershner avisando que levaria Arthur para conhecer alguns locais importantes pois estava sofrendo com a adaptação inicial. Após aprovado, eu e ele seguimos para o metrô. Não lembro de ter andado em tantas linhas diferentes no mesmo dia, mas confesso que nunca tinha reparado o quanto Londres era enorme subterraneamente.

Já passava das 19h e resolvemos parar em um café para descansar um pouco antes de levá-lo de volta para casa. Pedi a Arthur que me contasse um pouco da vida dele e num primeiro momento ele pouco se abriu. Notei que fazendo perguntas ele me respondia bem mais que de vontade própria.
- E você tem namorada no Brasil? – perguntei.
Ele que estava com a xícara na boca se engasgou com o café.
- Não, eu não tenho namorada.
Eu sabia que ele não gostava de mulheres graças ao episódio do encanador, mas queria ter certeza.
- E namorado?
Novamente ele começou a tossir.
- Tudo bem, aqui em Londres é bem normal. – tentei remediar.
Ele ficou apreensivo. Começou a me olhar meio torto, como se fosse fugir dali. Ficamos alguns instantes em silêncio, enquanto ele mexia no seu café. De repente, levanta os olhos em minha direção e pergunta:
- Você é gay?
A surpresa da pergunta me deixou desconcertado. Após aquelas reações dele, deveria eu assumir que era? E se ele resolvesse sair espalhando por aí? E se falasse para Mrs, Gershner, que era uma senhora tão devotadamente católica? Eu poderia ser demitido, apesar da amizade com minha mãe.
- Sim, eu sou. – soltei sem pensar mais nas conseqüências.
Os olhos dele se arregalaram. Por um momento achei que tinha feito besteira. Imaginei que ele ia se levantar a qualquer momento e sair dali correndo. Mas logo um sorriso começou a aparecer no seu rosto e Arthur me diz:
- Finalmente terei um amigo gay para compartilhar meus problemas... Eu... Eu também sou e nunca tive ninguém para conversar sobre isso.
E aquela confissão me fez sentir que a partir daquele momento eu e ele seríamos amigos inseparáveis. E retribuí com um sorriso.

(continua)

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