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Vol. 7 - You'll aways be my boo...

Posted by Chester
Já eram 17h e eu estava saindo do escritório quando recebo uma mensagem de texto.
“Se puder, gostaria que me encontrasse no mesmo café de ontem, por volta das 18h. Gostaria de conversar contigo de novo, se quiser. Aguardo você. Theo.”
Comecei a digitar uma mensagem, mas como fazer isso e caminhar é algo impossível para qualquer pessoa normal, imagine para mim. Resolvi então ligar.
- Oi Chess!
- Hã... Ah, oi Theo... Hehehe. Não estava esperando essa recepção.
- Desculpa.
- Não, tudo bem. Olha só, estou muito longe daquele café. Ontem fui até lá porque tinha que resolver umas coisas lá perto, então...
Estava prestes a desmarcar, mas então o som do suspiro dele deixou meu coração derretido e então acabei voltando atrás...
- ...quem sabe não podemos nos encontrar num outro local. Estou perto de Nothing Hill. Tem um café ótimo perto da estação. Que tal nos encontrarmos na estação mesmo e depois irmos ali?
- Ótima idéia. Que tal umas 18 horas?
- Por mim tudo bem.
- OK, encontro você lá.

Por que me coração neste em ser tão rebelde? Eu deveria ir para casa e esquecer que isso tudo aconteceu. Foi ele quem sumiu e não me deu notícias. Foram seis longos anos esperando por um sinal... Mas, como já tinha marcado o encontro, agra teria que ir. Entrei em umas lojas de roupas para fazer tempo e fiquei tão entretido com a quantidade de cachecóis que experimentei que quase perdi a hora.
Cheguei na estação e lá estava ele. Era estranho vê-lo de pé, imaginando que debaixo daquelas longas calças de veludo havia um bastão de liga metálica em vez de uma perna normal de carne e osso. Apressei o passo e cheguei de frente a ele.
- Oi, desculpa... Perdi o horário comprando umas besteiras.
- Hehehe... Notei pelas sacolas.
- Comprei uns cachecóis novos para ver se consigo ficar mais bonito nesses dias tão feios de inverno... Não que eu consiga, mas...
- Até parece que precisa disso para ficar mais bonito.
- Se você diz...

Chegamos à rua e esperamos para atravessar. Ainda continuava impressionado em saber como ele tinha conseguido se adaptar tão bem com aquela perna mecânica. Não parecia que ele estava usando uma. Distraído olhando para a perna de Theo, comecei a atravessar a rua, sem perceber que um ônibus vinha em minha direção. Mais atento que eu, Theo me puxa com o braço para trás, o que quase me leva ao chão a não ser pelo outro braço dele que me enlaçou. Como se fosse a cena de um filme romântico da década de 50, ficamos nos olhando como se depois daquilo fosse acontecer um beijo. Só que simplesmente nos olhamos e sorrimos da situação. Após ficar de pé novamente, iniciamos a travessia e entramos no café em um total e absoluto silêncio.

Entramos e nos sentamos próximos à janela. Pedimos dois cappuccinos e começamos a conversar sobre amenidades. Até que chegamos ao assunto “o que terá acontecido aos nossos colegas de colégio”. Muitas risadas depois, Theo se arrisca:
- Mas falando sério, jamais imaginaria que você ficaria tão bonito depois desses anos todos...
- Eu sei que nasci predestinado a ser feio, mas obrigado pelo suposto elogio. - e rimos.
- Quando digo isso é porque sempre imaginei que ficaria parecido com o que era... E tá bom, talvez, lá no fundo imaginasse que pudesse ter ficado feio.
- Nossa, obrigado por isso... - e voltamos a rir. Até que Theo interrompeu meu riso.
- E eu jamais imaginaria que continuaria tão apaixonado quanto estou nesse momento por você.
(CONTINUA)

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Vol. 6 - Don't leave me this way...

Posted by Chester
Nos primeiros anos de faculdade, meu único amigo gay sempre foi o Ygor. Não que não tenha conhecido outros, mas como convivíamos quase que diariamente, mantínhamos uma relação amigável. No começo era tudo muito divertido. Mas conhecendo mais a fundo, percebi que Ygor jamais seria um amigo verdadeiramente leal. Certa noite havíamos marcado com um grupo de amigos para jantar. Fomos todos para a casa de George, um novo conhecido meu de uma balada. Como ele e Ygor tinham amigos em comum, provavelmente acabaríamos todos nos encontrando por lá. Sentado num sofá conversando com uns rapazes que tinha acabado de conhecer, a campainha toca. Imaginei que poderia ser o Ygor, e assim me sentiria pelo menos um pouco mais a vontade. Confesso que nunca fui a pessoa mais simpática à primeira vista, mas tudo isso foi sempre devido a uma certa timidez que sempre me rodeou. E eu estava certo, logo passou pela porta o Ygor. Me viu, fez uma cara de surpreso, mas logo sorriu e puxou Stephen para a sala com ele.
- Chester, querido! Tudo bem? Lembra do Stephen?
- Oi Ygor. Lembro sim, é claro. Tudo bem com você?
- Tudo bem. - Stephen respondeu meio constrangido com a situação.
- Bom, vou ver se George necessita de ajuda na cozinha. - e saí dali sem esperar uma resposta. Me escorei nos armários da cozinha e peguei uma cerveja preta. Preferi acreditar que Ygor não estava me “desafiando” ao trazer Stephen para o jantar. “Provavelmente eu nem ficaria com ele mesmo. Como sou idiota!”, pensei. Olhei George e outras pessoas se virando na cozinha e resolvi oferecer ajuda. Com os pratos quase prontos, o pessoal começou a levar até a sala tudo e eu fiquei ali lavando alguns talheres.
- Precisa de ajuda? - uma voz apareceu por trás e mim.
- Já estou terminando.
Somente quando me virei, percebi que era Stephen.
- Hey! É você! - esbocei com certa surpresa.
- É... Pois é... - Ele olhou para os lados, como se estivesse fugindo ou com medo - Escute Chester, eu quero me desculpar se pareceu que ficou algum mal entendido entre nós naquela noite na boate. Eu comecei a sair com o Ygor e tudo mais, mas...
- Stephen, você não precisa me explicar nada e sequer pedir desculpas... O que aconteceu, aconteceu, não é mesmo? - interrompi ele.
- Mas é que eu... Na verdade... Eu queria era sair com você!
(Silêncio)
- Mas acabou saindo com o Ygor. O que eu posso fazer agora? Pegar na sua mão e dançar tango no meio da sala?
- Não... Não é assim também... Mas é que o Ygor me disse que você não estava a fim de mim e...
- Como assim eu falei isso? - interrompi quase gritando - Eu mal falei com ele durante a festa!
- Bom, então ele veio dizendo que poderia ser meu prêmio de consolo, e outras coisas mais. Não consegui dizer não, porque quando vi ele já estava me agarrando.
- Interessante... Não sabia dessas atitudes do Ygor... Até porque ele havia me dito que você só tinha se aproximado de mim porque era tímido e queria chegar nele através de mim... Quantas histórias confusas não é? Em quem eu vou acreditar? - zombei.
- Eu já disse o que tinha para dizer, Desculpa qualquer transtorno. Gostei muito de ter conhecido você naquela noite e queria ter a oportunidade de conhecer você melhor. Desculpa, a burrada foi minha.
Meu coração mole ficou abalado e eu disse que aceitaria conversar com ele desde que ele terminasse qualquer tipo de relacionamento que ele tivesse com Ygor e contasse que estava a fim de mim. De pronto ele aceitou e me pediu meu número de telefone. Ficou combinado que ele me ligaria assim que tudo estivesse resolvido.
O jantar transcorreu normal. Comemos, bebemos e rimos de monte. George quando queria sabia cozinhar como ninguém. Perto da meia noite, os convidados começaram a se despedir. Não vi Ygor nem Stephen sair. Saí dali com um pessoal e pegamos o metrô. A chegar em casa, recebo uma mensagem de texto no celular.
Obrigado.
Imaginei de quem fosse, mas não entendi o que ele queria dizer.
Obrigado pelo que?”, respondi.
Não passou dois minutos e recebi a resposta.
Por ter desperdiçado seu tempo comigo e me ouvir.
(CONTINUA)

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Vol. 5 - If I never see your face again, I don't mind...

Posted by Chester
Não pude conter um sorriso no rosto. Talvez era a coisa que eu mais queria ouvir nos últimos anos. Reencontrá-lo e ver que ainda sentia minha falta. Naquele momento o mundo parou. Os flocos de neve ficaram paralisados no ar, assim como as pessoas. Eu não acreditava no que estava acontecendo na minha frente. Até que:
- Oi... Tem alguém aí? Hehehe...
- Hã... Ah, Oi... Desculpa... Estava longe.
- Eu notei. Pensava no quê?
Queria ter dito outra coisas, mas...
- Que realmente fazia muito tempo desde a última vez em que nos encontramos.
- Verdade...
Sou um idiota mesmo. Deveria ter dito algo que demonstrasse um certo sentimento, sei lá. Mas, tudo o que saiu da minha boca pareceu indiferença.
(Silêncio)
- Está solteiro, namorando?
- Hã?
- Está com alguém?
- Não... Eu não... Estou solteiro faz um bom tempo. - Seis anos, mas ele não precisava saber disso. - E você?
- Estou divorciado.
As surpresas nunca acabavam.
- Como assim divorciado?
- Bom, é uma longa história, mas como temos um tempinho vou contar para você. Com mais ou menos 21 anos conheci uma garota e nos casamos. Ela era minha fisioterapeuta. Mas um dia ela descobriu que nosso casamento não era exatamente por amor e abandonou tudo. Meses depois recebi do advogado dela o pedido de separação. E nunca mais a encontrei. Desde então estou sozinho.
- Nossa... Tem mais alguma coisa para me surpreender? - zombei assustado com a resposta que poderia vir.
- Sim, tem sim... Mas essa é uma coisa boa... -e abriu um enorme sorriso.
- E o que é?
- Eu tenho um filho.
Meus olhos se arregalaram de surpresa, fui indo para trás em busca do encosto cadeira, como se quisesse fugir do que eu estava ouvindo. E esta não agüentou. Uma de suas pernas se partiu e imediatamente fui arremessado ao chão, assim como o meu rosto assim que ouvi aquela noticia.
- Chester! Tudo bem com você?
Atirado no chão, com as minhas duas pernas para cima, somente agora pude perceber que ele tinha novamente as duas pernas. Me apoiando no chão grudento, me levantei e acabei me sentando na outra cadeira. Ainda um pouco chocado com aquilo tudo, vejo Theo pedir ao baixinho uma garrafa de água. Quando voltei a si, perguntei de onde havia surgido a outra perna. Prontamente me levantou a calça e me mostrou uma reluzente viga metálica no lugar de uma linda panturrilha que ali havia existido um dia. Um sentimento de culpa pairou no ar.
O baixinho veio com a água e trouxe um copo molhado junto. Abri a garrafa e tomei no gargalo mesmo. Só parei quando a garrafa estava praticamente vazia.
- Coloquei assim que cheguei em Glasgow. Não foi fácil de me adaptar, mas agora já estou acostumado.
- Eu, eu me sinto tão mal... Tão culpado por isso que aconteceu... Eu... Eu..
- Eeeii... Não tem do que se culpar... Você jamais poderia prever que aquilo iria acontecer... Acalme-se. - E passou a mão sobre o meu braço. Já não estava com forças para agüentar aquela situação. Me levantei, tirei 5£ da carteira e sobre ele coloquei um cartão com meu telefone e pus na mesa.
- Olha, se quiser conversar outra hora.. Eu... Eu não estou bem. Me desculpe.
Peguei meu casaco e saí dali sem olhar para trás, mesmo sabendo que eu poderia nunca mais ver ele de novo.
(CONTINUA)

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Vol. 4 - I don't need your sympathy...

Posted by Chester
Na volta para casa, Ygor me observava e queria saber o porque estava de cara tão amarrada. Eu respondi que não tinha gostado muito da festa e que estava cansado, queria ir logo para a casa dormir. Mas a verdade é que não suportei a idéia de ter sido trocado pelo meu melhor amigo. “O que ele tem de melhor que eu”, pensei. Bom, talvez o Stephen gostasse de rapazes mais afeminados. Mas estava me recusando a acreditar nisso.
- Viu o gato que eu peguei? Pensei que ele estava dando mole para você, mas pelo jeito ele estava mesmo era a fim de mim.
- Como assim? Ele não me falou nada sobre isso...
- Bom, ele me disse que é tímido e preferiu se aproximar de um amigo meu primeiro para saber se eu estava sozinho. Ele tinha visto nós dois chegarmos juntos a boate. O bom é que trocamos telefones e vamos marcar de nos encontrar para sair de novo. Não é o máximo?
- É sim Ygor. Parabéns.

Naquela noite não consegui dormir. Me achava a pior criatura da face da Terra. “Será que sou tão feio assim?”, “Será que nunca mais ninguém vai me olhar?” eram as coisas que mais martelavam a minha cabeça. No outro dia em sala de aula encontro Ygor todo feliz contando a novidade para as meninas. Chegando próximo ao grupinho, Rose me cumprimenta e pergunta o que eu tinha achado da festa. Ao responder que não tinha gostado muito, Ygor levanta a voz e responde com desdém.
- Deve ser porque você não ficou com ninguém não é? Também, ficou fazendo cara feia para todo mundo... Não é a toa que ninguém quer você mesmo.
Impossibilitado de fechar a boca para aquela resposta e sem ter nada plausível para responder, me virei e coloquei minhas coisas sobre uma mesa. Me sentei e ali fiquei durante toda a aula. Jamais me senti tão humilhado, mas ao mesmo tempo estava achando que aquilo que me foi dito era verdade. Talvez eu fosse um babaca e nenhum outro cara se atreveria a me olhar na cara de novo. Talvez o culpado disso tudo fosse Theo por ter me abandonado. Ou talvez a culpa tenha sido mesma minha. Era tão inocente para esse mundo onde todos eram tão volúveis e corruptíveis Não queria ninguém por perto. Queria ficar só naquele momento. Me esconder de tudo e de todos. Rose veio e se sentou do meu lado. Vendo que eu estava mal, me disse baixinho:
- Esquece isso...
(CONTINUA)

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Vol. 3 - Comin' back for more...

Posted by Chester
Havia passado seis anos da última vez que havia encontrado Theo. Foram seis longos anos esperando este momento. Agora, eu estava ali, frente a frente com o cara por quem um dia me apaixonei e que havia desaparecido do dia para a noite. Depois da última vez que falei com a mãe dele, tentei encontrá-lo, mas minha entrada não foi permitida no hospital.Tenho certeza de que meus bilhetes jamais foram entregues pela enfermeira. Provavelmente a mãe dele havia interceptado eles antes que chegassem a mão de Theo. Os dias passaram até que um dia a enfermeira me notificou que ele havia recebido alta. Mas cheguei na casa dele e ela estava vazia. A família inteira havia desaparecido da cidade. E assim, fiquei sem notícias por anos. Naquela hora, eu queria ir até a mesa dele, dizer um monte de verdades. O sangue corria quente nas minhas veias. Mas meus pés pareciam estar presos ao piso vagabundo de linóleo daquele café. Aos poucos, a surpresa nos olhos dele deram início a um pequeno sorriso, e com um movimento de cabeça permitiu que eu me aproximasse da mesa.
- Eu não posso acreditar no que estou vendo... - foi só o que consegui pronunciar.
- Pois digo o mesmo! - respondeu sorrindo.
Theo estava um pouco mudado. Seu corpo atlético tinha dado espaço a um rapaz mais rechonchudo. Havia crescido um pouco mais, mas o rosto se mantinha quase o mesmo, a não ser pela barba e pela expressão de ter dormido pouco.
- Os anos fizeram bem para você...
Só pude retribuir com um sorriso.
- O tempo fez estragos é em mim... Hahaha. - e acabei dando uma risadinha amarela. - Mas aí, o que me contas? O que tem feito da vida?
- Nada de mais. Me formei em Turismo e Gestão Hoteleira e estou trabalhando em um agência de intercâmbio. Estou em Londres praticamente desde a minha formatura. E você, o que tem feito?
Na verdade, queria ter dito mil coisas. Queria saber o porquê dele ter sumido sem sequer dar um recado, um telefonema. Simplesmente saiu da minha vida, assim como entrou.
- Bom, logo após o acidente me mudei com meus pais para Glasgow. Me formei no colégio e cursei Finanças na universidade para poder assumir o lugar do meu pai na empresa dele. Ano passado, depois que os dois faleceram num acidente de carro, vendi a empresa e comprei um apartamento aqui em Londres. Comecei uma pós-graduação enquanto trabalho em uma empresa de um amigo do meu pai. E é isso... Mas, eu quero saber o porque você sumiu sem deixar notícias... Desde o dia em que eu descobri que a minha perna foi amputada eu nunca mais soube nada de você... O que houve?
Eu não sabia o que responder. Theo achou que era eu quem o havia abandonado, enquanto naqueles anos todos quem se sentia o abandonado era eu.
- Theo, eu estive no hospital praticamente todos os dias até a sua alta, mas minha entrada nunca foi permitida. Deixei diversos bilhetes com a enfermeira, até que um dia...
- Um dia o quê? - como se desconfiasse de cada palavra minha.
- É melhor deixar isso para lá.. Faz muito tempo que isso aconteceu.
- Não, por favor. Fale. Eu insisto.
Preferi me calar. Olhei para a mesa e comecei a bater com os dedos sobre o tampo engordurado. Não iria adiantar nada culpar a mãe dele que já não estava mais presente para se defender de tais acusações.
- Foi minha mãe?
E a resposta obtida novamente foi o meu silêncio. Meu rosto começou a se fechar como se logo as lágrimas viessem a cair. Acho que percebendo isso, ele parou com as perguntas.
Ficamos longos minutos em total silêncio. Respirei fundo, joguei minha cabeça para trás, como se aquele ritual me fizesse ter forças para continuar enfrentando ele. Nossos olhos voltaram a se encontrar. Ele, com um sorriso de canto de boca diz:
- Senti tua falta.
(CONTINUA)

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Vol. 2 - The party is over...

Posted by Chester
O tempo passou e finalmente eu iria me formar. Finalmente iria sair daquela cidade, e assim, fugir das recordações. Fugir de um primeiro amor frustrado era tudo o que eu precisava. Havia planejado com Meg de morar em Londres por um ano antes de começarmos a faculdade. Nossos pais não haviam gostado muito da idéia, mas no fim, acabaram nos ajudando a encontrar um apartamento, desde que nossa carreira acadêmica não fosse esquecida. Após um ano de diversão, Meg e eu entramos na Universidade. Enquanto ela decidiu entrar para a carreira administrativa, eu preferi entrar para o ramo do turismo. Sempre havia gostado da idéia de trabalhar com locais e pessoas diferentes, e no fim, acabei me identificando com o meu curso. Com o passar dos anos, perdemos o contato. Meg se mudou para dividir um apartamento com a prima e cada um foi para seu lado. Mas amizades entre os colegas aumentaram. Aos poucos fui entrando no mundo gay e me assustando com tudo o que via. Tudo era novo e ao mesmo tempo tão diferente para mim. Meu primeiro amigo gay em Londres foi Ygor. Ele tinha vindo da Rússia estudar e apesar de ele ser ligeiramente afeminado, houve uma identificação mútua e logo passamos a freqüentar todos os locais juntos. Mas meu grande primeiro choque do mundo gay foi quando Ygor me convidou para nos arrumarmos para sair, na casa dele. Depois de ter trocado de roupa e ter dado um ajeitada no cabelo, ele vem para a frente do espelho comigo e começa a passar pó no rosto. Meus olhos entregaram a minha expressão de espanto que foi respondida da seguinte forma:
- O que foi? Isto é para me deixar mais bonito. - dizia com um sotaque extremamente carregado, e por vezes engraçado.
- Eu achava que isso era para mulheres! - respondi.
- Deixe de ser bobo! Eu ainda vou passar delineador também.
Olhei para ele com uma cara estranha e voltei para a sala. Saímos e fomos para a festa. Logo, me senti rejeitado por tudo e por todos. Aceitei o papel de rejeitado e me tornei o melhor intérprete dele. Aquele lugar não era para mim. Ygor tentava me enturmar com alguns amigos dele mas não me sentia muito à vontade. Todos falavam gírias bizarras e usavam roupas estranhas. Eu me sentia um ornitorrinco na Gaiola das Loucas. Fiquei sentado em um sofá grande enquanto todos dançavam. Já estava entediado com aquela gente e aquelas músicas pop do momento. Até que um rapaz me olhava enquanto dançava com um grupo de outros rapazes. Bem menos afetados do que todos os outros que se encontravam na boate, eles chamavam a atenção de todos. Diversas vezes o peguei me olhando enquanto dançava até que numa troca de música o grupo se dispersou e ele veio na minha direção e se sentou do meu lado.
- Pelo visto não está gostando muito da noite não é? - ele veio perguntando.
Esbocei um sorriso sem graça e concordei com a cabeça.
- Veio sozinho?
- Não, vim com um amigo.
- Só amigo? - perguntou rindo.
- Como assim?
- Hehehe... Esquece... Meu nome é Stephen, e o seu?
- É... Chester.
- Bem, prazer Chester... Pelo visto não está se divertindo muito, não é?
- Hmmm... Digamos que não estou acostumado a esse tipo de festa... - respondi sem sequer olhar para ele.
- Entendo. Então aposto que veio só por causa dos amigos, assim como eu, acertei?
- Exatamente.
- Interessante isso. Bom, vou até o balcão pedir algo para beber... Quer alguma coisa?
- Não, não... Estou bem...
- OK, não demoro. Daí pensamos em algo divertido para fazer. - deu um sorriso e saiu.
Mal Stephen saiu do sofá e Ygor aparece do nada do meu lado e já pergunta se eu estava “pegando” o cara.
- Mal conversamos! - respondi rindo
- Ta bom. Vou voltar para a pista, falo contigo depois.
Três músicas depois, resolvo ir até o balcão pegar uma garrafa de água e tentar reencontrar Stephen. Atravessando aquele monte de gente, chego próximo ao balcão. Praticamente do meu lado, vejo Ygor praticamente sentado no colo de Stephen enquanto se beijavam loucamente.
(CONTINUA)

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Vol. 1 - A long, long time ago... I can still remeber...

Posted by Chester
Após algum tempo sem postar, estou de volta. Preparem-se para novas emoções nesta segunda temporada! Enjoy it!

A noite estava gelada. Na rua, nevava como nunca havia nevado nos últimos anos. Estava sentado na frente da janela. Ela permanecia aberta. Enrolado no meu edredom favorito, com um enorme Spider-man estampado, observava o movimento dos pequenos flocos no vento. Tomava grandes goles de chá da caneca térmica que mantinha em uma das mãos, enquanto na outra, pendia um cigarro aceso. Fazia tanto tempo que não colocava um cigarro na boca que nem havia lembrado o gosto ruim que tinha, mas naquela hora, ele funcionava como calmante.

Naquela tarde aconteceu algo que eu jamais imaginaria. Tinha saído para comprar o presente de aniversário para Megan. Ela havia me dito o ano inteiro o que queria, o que tornou a busca bem mais fácil. Ela queria ingressos para o show da Mariah Carey. Parecendo um boneco de neve, saí então desbravando as ruas do centro atrás do ponto de venda dos ingressos. Quando finalmente encontrei, não imaginaria que existiria uma fila tão grande. Cerca de 25 minutos, estava com 2 ingressos na mão e um valor BEM salgado na fatura do cartão de crédito. Não estava muito a fim de ir no show, mas Meg havia insistido tanto que no fim das contas acabei cedendo. Eu mal conhecia as músicas dela. Saindo na rua de novo, o frio me gelou a espinha. Me senti mal, um enjôo súbito, como se algo estivesse para acontecer. Entrei no primeiro café que vi pela frente. A sineta da porta me assustou. Entrei correndo e me sentei na primeira mesa vaga que vi. Sentei, tirei o casaco grande de lã e friccionava as mãos uma nas outras tentando aquecer meus dedos já congelados. Quando parecia ter voltado a um estado normal, reparei bem onde estava. A mesa em que estava sentada era de uma madeira velha, já meio desgastada pelo tempo e pela quantidade de gordura que já esteve sobre ela. A cadeira da mesma madeira, parecia estar com seus dias contados. Além de bamba, era extremamente desconfortável. Logo, um baixinho com cara de rabugento, me perguntou o que eu queria. De pronto, respondi:

- Somente um chá com leite, por favor.

O baixinho se virou e reparei que não estava sozinho no local. Próximo a janela estava um senhor de idade, que observava as pessoas passarem pela rua enquanto tomava uma pequena xícara de café. E algumas mesas depois, um rapaz ria animadamente com uma senhora gorda e uma moça loura que parecia ser sua filha. Comecei a observar de relance as duas, pois tinham rostos familiares. Mas logo chegou o baixinho e jogou o chá sobre a mesa. Com cara de nojo, agradeci e ele resmungou algo numa língua incompreensível para mim. Olhei para o chá e desisti logo de tomar o primeiro gole. Voltei a olhar para a mesa e as mulheres estavam se despedindo do rapaz e já colocando seus casacos. Acompanhei elas com os olhos até a porta, mas não identifiquei quem era. Voltei os olhos à mesa. O rapaz agora se escondia atrás de um jornal. Com desânimo, olhei para o meu chá e mexi com a colher. E ver aquela mistura fez revirar meu estômago. Me levantei para pagar a conta e sair daquele ambiente logo. Colocando o meu casaco, vejo o rapaz baixando o jornal. E nossos olhos se encontraram.

(CONTINUA)

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