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Vol. 9 - Heroes and Saints

Posted by Chester
Theo sempre soube como me deixar sem graça. E isso nem é uma tarefa difícil, já que qualquer elogio direcionado a mim é capaz de tornar o meus rosto tão vermelho quanto um tomate. E era assim como eu estava na frente dele agora. Nervoso com a situação e sem saber o que dizer, meti a boca direto na minha taça de cappuccino e dei um grito de dor. Ao perceber a situação ridícula em que me encontrava e ao ver que todos no café me observavam por ter queimado a língua com o líquido quente, comecei a rir. Algumas pessoas esboçaram um sorriso e voltaram ao que faziam. Theo, que começou a rir junto comigo, falou:
- Você continua o mesmo atrapalhado de sempre...
- Infelizmente foi algo que ainda não superei... Não me ensinaram no colégio como deixar de ser um nerd idiota. - e rimos juntos.
- Bem, eu queria poder ficar mais tempo contigo hoje, mas a babá do Henry terá que ir embora mais cedo, então daqui a pouco eu vou ter que ir.
- Entendo.
- A não ser que queira conhecer onde eu moro... Posso preparar algo para jantarmos, assistir um DVD...
- Se não sentisse um cheiro de segundas intenções no ar, era capaz de ir mesmo...
- Ah... Desculpa... Não tinha essa intenção. - ele disse, sem graça.
- Aham, sei...
A cara de decepção em Theo derreteu meu coração. Era claro que eu queria ir, mas estava tudo tão rápido. Maldito coração mole...
- Bom, eu só espero então que saiba cozinhar bem e que o filme seja bom.
Um sorriso iluminado surgiu no rosto dele.
- Será tudo maravilhoso, eu prometo.

Saímos do café pouco tempo depois. Passamos num supermercado e em uma locadora. Theo queria um filme mais romântico, mas eu queria mesmo algo bem assustador. Afinal, filmes de terror ajudam a forçar um clima nas cenas mais violentas. Pelo menos eu imaginava que funcionaria.

Theo estava morando praticamente sozinho num apartamento enorme. A decoração vitoriana deixava um ar clássico e requintado no ambiente. Confesso que me senti meio deslocado naquela sala enorme, digna de uma revista de decoração. Enquanto eu observava tudo meio atônito ele largava as compras sobre um aparador.
- Vem, quero mostrar a casa. - me pegando pela mão.
Ao pegar na minha mão, uma sensação indescritível passou pelo meu corpo. Era como se tudo em mim se enchesse de coragem e de ternura. Meu coração passou a bater mais forte e que aquela mão fosse a coisa mais confiável do mundo. Ela poderia me levar a qualquer lugar do mundo e eu jamais hesitaria em segui-la.
Passamos por diversos cômodos até que chegamos ao quarto de Henry. Decorado com um papel de parede que lembrava uma noite muito iluminada, e no centro um lindo berço branco de ferro enlouqueceria os olhos de qualquer mulher grávida. Ao chegar mais perto e ver aquela pequena criaturinha dormindo, tão frágil e tão doce que ficaria a noite inteira admirando ela dormir. De uma cadeira de balanço, a babá se levanta, meio que dormindo e sai, se despedindo rapidamente. Theo pega a babá eletrônica sobre uma cômoda e liga colocando no berço de Henry.
- Vamos, ele vai demorar para acordar. - e me pegou pela mão.
- Boa noite anjinho - balbuciei.

Voltando até a cozinha, Theo começou a preparar o jantar, enquanto eu ficava sentado tomando uma taça de vinho.
- Tem certeza de que não quer ajuda? - perguntei.
- Hoje você é meu convidado. - e me deu uma piscada.
Distraído, coloquei a taça sobre a bancada, mas ela caiu e se espatifou no chão.
- Ai, que desastre...
Me abaixei para juntar os cacos e Theo, se abaixou para me ajudar. Ao ver que ele se abaixava e iria se ajoelhar sobre um caco grande, logo uma onda de lembranças invadiu minha cabeça.
- Theo, cuidado...
E em câmera lenta revi a cena em que Theo caia sobre os cacos de vidro e logo depois a cena em que descobrimos juntos que a perna dele havia sido amputada. A angustia de rever tudo aquilo fez com que eu enfiasse a mão sobre o caco antes que o joelho dele se encontrasse com o chão.
(CONTINUA)

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